Minha principal missão consiste hoje em deixar para a classe operária uma base teórica suficientemente firme e ampla para que lhe sirva de ponto de apoio em sua organização futura e de arsenal de onde tire as armas necessárias para lutar contra a burguesia. (KARL MARX)
Este ano o proletariado e todos os explorados e oprimidos do mundo celebram os 200 anos do nascimento do grande Karl Marx reconhecido como o grande chefe do proletariado internacional. Afrontando todo o tipo de dificuldades, em meio à luta cerrada contra as diversas doutrinas do socialismo pequeno-burguês e não-proletário, Karl Marx e Friedrich Engels deram à luz a ciência do proletariado. O marxismo afirmou a necessidade da organização do proletariado para transformação da sociedade. A partir de então uma consigna começou a correr o mundo: Proletários de todos os países, uni-vos! Voou sem ter asas e retumbou firme e forte em todos os continentes, em todos os lugares onde impera a exploração e a opressão aos trabalhadores.
Se a eterna juventude de um autor consiste na capacidade de continuar estimulando novas ideias, podemos dizer que Marx permanece jovem depois de 200 anos. A ideologia do proletariado, a grande criação de Marx, é a mais alta concepção que a humanidade conheceu; é a ideologia científica que pela primeira vez dotou aos homens, à classe (principalmente) de um instrumento teórico e prático para transformar o mundo. A partir da filosofia clássica alemã, sobretudo do sistema de Hegel, o qual conduzira por sua vez ao materialismo de Feuerbach, Marx dá um salto na compreensão da dialética, isto é, a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda que nos dá um reflexo da matéria em constante desenvolvimento. Aprofundando e desenvolvendo o materialismo filosófico, Marx levou-o até ao fim e estendeu-o do conhecimento da natureza até o conhecimento da sociedade humana. Marx fez também uma análise profunda do duplo caráter do trabalho incorporado às mercadorias, desenvolvendo a teoria do valor e da mais valia, além de uma poderosa teoria da luta de classes, dando solução para os desafios estratégicos da revolução proletária. Relegar a Marx à posição de um clássico embalsamado apenas para a Academia seria um erro. Voltar a Marx não é apenas essencial para entender a lógica do capitalismo, uma vez que crises econômicas, desigualdade e problemas ambientais dramáticos leva-nos à reabertura do debate sobre o futuro e a necessidade de uma alternativa. Muitos daqueles que leem seus livros hoje, mais uma vez ou pela primeira vez, notarão que sua análise está mais atual do que nunca, razão que Marx e o Marxismo é cotidianamente atacado dentro e fora do espaço acadêmico.
O ano de 2018 também é marcado pelo Centenário da Reforma de Córdoba. Também temos como perspectiva o debate acerca do desenvolvimento histórico da Universidade Pública latino-americana influenciada pelos ventos da Reforma de Córdoba, na Argentina, cujo marco remonta o processo de organização dos estudantes que em 21 de junho de 1918 defendiam um modelo de universidade que rompia com uma educação dogmática, metafísica e autoritária, influenciando inúmeras lutas pela América Latina e possibilitando uma mudança profunda na estrutura das universidades.
A partir de hoje contamos para o país uma vergonha a menos e uma liberdade a mais. As dores que ficam são as liberdades que faltam. Acreditamos que não erramos, as ressonâncias do coração nos advertem: estamos pisando sobre uma revolução, estamos vivendo uma hora americana.
A rebeldia estala agora em Córdoba e é violenta porque aqui os tiranos tinham muita soberba e era necessário apagar para sempre a lembrança dos contra-revolucionários de maio. As universidades foram até aqui o refúgio secular dos medíocres, a renda dos ignorantes, a hospitalização segura dos inválidos e - o que é ainda pior - o lugar onde todas as formas de tiranizar e de insensibilizar acharam a cátedra que as ditasse. As universidades chegaram a ser assim fiel reflexo destas sociedades decadentes que se empenham em oferecer este triste espetáculo de uma imobilidade senil. Por isso é que a ciência frente a essas casas mudas e fechadas, passa silenciosa ou entra mutilada e grotesca no serviço burocrático. (...)
A juventude já não pede. Exige que se reconheça o direito de exteriorizar esse pensamento próprio nos corpos universitários por meio de seus representantes. Está cansada de suportar os tiranos. Se foi capaz de realizar uma revolução nas consciências, não pode desconhecer-se a capacidade de intervir no governo de sua própria casa.
A juventude universitária de Córdoba, por meio de sua federação, saúda os companheiros da América toda e os incita a colaborar na obra de liberdade que se inicia (Manifesto dos Estudantes de Córdoba, Argentina, 21 de junho de 1918).
Nada mais oportuno para discutir o caráter público e gratuito da Educação no momento em que se acentuam os ataques privatizantes contra a Universidade Pública Brasileira e à Educação Básica. Os ataques à Educação e outros direitos sociais foram orquestrados por órgãos do imperialismo, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, que seguidamente apresentam o seu receituário aos governos de turno que tratam de aplica-los enquanto políticas de Estado. Com o agravamento da crise capitalista, privilegia-se os lucros bilionários das potências estrangeiras, que sugam todas as nossas riquezas nacionais, às custas da elevada destinação de recursos da União e dos estados para o pagamento da dívida pública, sacrificando à população com a precarização dos serviços públicos e retiradas de direitos.
Os cortes no financiamento da educação visam implementar uma política de fechamento das escolas e universidades públicas e aumento da injeção do dinheiro público nas redes privadas de ensino. Sem financiamento suficiente, a expansão do número de matrículas verificada nas universidades públicas nos últimos anos, longe de representar a apregoada democratização do acesso à educação superior, resultou no aprofundamento da precarização das condições de trabalho, na degradação da qualidade do ensino e da produção científica realizada nessas instituições que passam por um processo de privatização, agora sob o discurso do “empreendedorismo acadêmico”, onde o professor/pesquisador passa a ser um captador de recursos em editais ou vende seus serviços e pesquisas desenvolvidas na Instituição Pública para a Iniciativa privada. A omissão do Estado em garantir uma Educação Pública, gratuita e de qualidade e o financiamento público às redes privadas têm sido, assim, duas das mais importantes medidas de privatização da educação, sobretudo do ensino superior.
Neste contexto, se insere a Contrarreforma do Ensino Médio e a proposta da BNCC para a Educação Básica que impõe uma dicotomia formativa e um reducionismo curricular que acarretará um déficit de conteúdos a milhões de estudantes, uma vez que, pela limitação de aplicação da BNCC, seja pela não obrigatoriedade de oferta de todos os “itinerários formativos” na rede pública (em razão dos cortes no financiamento), seja em função da flexibilização curricular que admite computar atividades à distância e carga horária de cursos técnicos diversos e de trabalho voluntário ao currículo do ensino médio regular, ou ainda pela terceirização dos “itinerários formativos” (especialmente da Formação Técnica e Profissional) sem vínculo com os conteúdos exigidos em processos de seleção para o ensino superior, tendem a inviabilizar o acesso dos estudantes das escolas públicas que desejarem ingressar nas universidades públicas. Paralelo à esta ação os grandes conglomerados de Empresas Educacionais que já controlam a Educação Superior voltam-se para a Educação Básica.
Portanto, a II Jornada do HISTEDBR-RO, reafirmando a atualidade do pensamento de Marx tem como tema o Bicentenário do nascimento de Karl Marx e o Centenário da Reforma de Córdoba. A Jornada será realizada de 10 a 12 de outubro deste ano e buscará discutir as contribuições de Marx e os aportes de autores que se inspiraram em sua obra teórica na construção de uma educação comprometida com as mudanças sociais que tem como perspectiva a superação do modo de produção capitalista. É o momento também para discutirmos o cenário macabro de privatização da Educação Pública em todos os níveis e que representam um retrocesso das poucas conquistas que possibilitaram ao povo o acesso à gratuidade e avanços democráticos nas Instituições Educacionais. Porém, mais do que discutir é preciso organizar um amplo processo de resistência de trabalhadores e estudantes para garantir uma Educação que sirva ao povo com o objetivo de formar o novo homem e a nova mulher, instrumentalizados pela ciência do proletariado. Resistir é preciso!